A semana que passou foi marcada por um acontecimento trágico e que chocou a todos nós brasileiros: a morte de Eduardo Campos. Imediatamente, a notícia ganhou espaço na mídia nacional seguida de inúmeras reportagens sobre o que de fato aconteceu. Todos nós ficamos um pouco (ou muito) atordoados, sem entender muita coisa. Os canais de televisão veiculavam a toda hora notícias do ocorrido, aguçando ainda mais a procura por informações. Longe das discussões técnicas e também dos comentários sensacionalistas, a verdade é que o desaparecimento de Eduardo Campos nos fez refletir um pouco mais sobre o sentido da vida e, por que não dizer, da própria morte.
Lembro que menos de vinte e quatro horas antes, Eduardo Campos estava sendo entrevistado pelo Jornal Nacional. Tive a oportunidade de ver toda a entrevista. O candidato falou sobre seu programa de governo e do que pretendia fazer se eleito presidente da República. Sua cabeça, seus ideais enxergavam o futuro. Apenas o futuro. Nem sombra do que estava por vir.
Nunca esqueci uma homilia feita por um padre em que ele fazia a seguinte comparação: nossa passagem por essa vida é semelhante à viagem noturna de um automóvel. O máximo que o seu condutor pode enxergar é até onde os faróis alcançam. Nunca sabemos o que vem depois. Tudo é obscuro.
É verdade. Nossa vida é exatamente assim.
Por vezes, nos vemos embrulhados por um cem número de coisas pra fazer e por fazer: trabalho, estudo, compromissos sociais, agenda lotada, sem tempo para quase nada. Fazemos planos, fixamos metas, tentamos de qualquer forma e à nossa maneira construir nosso futuro. Como se tudo dependesse de nossa ação. Aí vem o inesperado e joga tudo pro alto. Qual o sentido da vida então? Pergunta difícil de responder. Eu diria dificílima. A vida é um grande mistério. A morte também.
É bem verdade que não podemos permanecer de braços cruzados, aguardando que as coisas aconteçam, que os acontecimentos se sucedam à nossa frente sem que esbocemos a mínima atitude. Desde o convívio familiar somos impelidos e compelidos a agir, cada um a sua maneira. “Temos que ser alguém na vida”, já diziam nossos pais.
O súbito desaparecimento de Eduardo Campos vem novamente nos lembrar – assim como tantas outras ocasiões que presenciamos – que o curso de nossa vida não nos pertence. Somos governados por leis que estão muito além de nosso entendimento. Algumas sábias, outras nem tanto. Tudo a depender do ângulo que se enxerga.
As coisas podem mudar radicalmente de um momento para outro, sem aviso prévio. Quando chegamos a este mundo não trazemos um “manual do fabricante”. Aprendemos a lidar com a vida “no tapa”, “na marra”. Na base das tentativas e frustrações. A vida às vezes nos ilude. Achamos que somos senhores de tudo. Que somos suseranos e não vassalos. Que governamos ao invés de sermos governados. Temos a sensação de termos o controle de tudo. Que basta apertarmos um botão para que as coisas aconteçam. Mas as coisas não são bem assim. No tabuleiro da vida, somos apenas uma peça. Nosso papel é desempenhar papéis.
Enxergamos só parcialmente. Nada mais que isso. Então façamos assim: já que não podemos aprisionar o futuro, fazer com que ele aconteça exatamente como nós esperamos, procuremos também não deixar que ele nos aprisione. É uma pálida tentativa para fazermos com que o jogo termine empatado e não corramos o risco de perdermos de goleada.
ALIPIO REIS FIRMO FILHO
Conselheiro Substituto/TCE-AM