Começou a campanha eleitoral e não tenho visto na pauta dos candidatos nenhuma proposta voltada à gestão ambiental. Essa ausência é sentida não apenas entre os candidatos ao governo do Estado, mas também entre os que postulam a presidência da República.

Não me refiro às alusões superficiais e aos comentários isolados feitos numa ou noutra entrevista. Falo de um conjunto de propostas que reflitam efetivamente um programa de governo. Algo que realmente represente uma mudança de postura frente aos graves problemas ambientais de nosso tempo.

O Brasil, todos sabem, é próspero em riquezas naturais. A fauna, a flora e os rios são e sempre serão um verdadeiro cartão-postal do território brasileiro. Nosso subsolo guarda riquezas imensas e uma capacidade produtiva fantástica, capazes de fazer inveja a qualquer nação. Infelizmente, entretanto, parece que ainda não despertamos para essa realidade. Ainda não cuidamos suficientemente de nosso solo, da nossa água, da nossa flora e fauna. O trato e manejo das questões ambientais ainda estão longe de concorrerem, em pé de igualdade e importância, com os discursos inflamados (que dizermos abraçar) em prol da saúde, da educação e da mobilidade urbana. Parece que o gigante ainda adormece em berço esplêndido. Quando iremos despertar? Não sabemos.

Particularmente em relação à região amazônica, nossos rios ainda sofrem com o lixo que diariamente é atirado de nossas embarcações. Imagine a quantidade de materiais que a cada trecho navegado chega ao leito do Rio Purus, do Rio Madeira, do Rio Solimões, do Rio Negro e de tantos outros, sem a menor preocupação de nossos ribeirinhos e do Poder Público. São garrafas e sacos plásticos, latas de cerveja, combustíveis, lubrificantes e toda a sorte de dejetos humanos, despejados indiscriminadamente sobre um dos maiores e cada vez mais raros tesouros da humanidade: a água.

Não bastasse isso, também os inúmeros igarapés que cortam a cidade de Manaus agonizam com a quantidade de descartáveis que neles são depositados. Aqui, contam-se geladeiras, refrigeradores, colchões, máquinas de costura, ferros de passar, tesouras, alicates e um cem número de outros objetos que fariam inveja a qualquer brechó de utilidades domésticas. Isso sem falar nos imensos metros cúbicos de água provenientes de nossos esgotos que ganham os córregos sem qualquer tratamento sanitário. Há anos esses cursos fluviais urbanos pedem por socorro. Mas seu grito é emudecido pelos discursos de campanha, comumente insensíveis a tais apelos. Nosso imediatismo fala mais alto. Ainda não temos a consciência de que a colheita depende da plantação. E essa regra vale para qualquer situação, inclusive, para as questões ambientais.

Também não noto qualquer movimento em favor do descarte correto dos medicamentos. Essa é outra pedra no nosso sapato.

Penso na quantidade de medicamentos descartados por meio do lixo doméstico, sem qualquer preocupação com o meio ambiente. Muitas vezes, aproveitamos apenas uma fração dos medicamentos que compramos nas farmácias e drogarias. O restante é normalmente jogado no cesto de lixo, como se fossem materiais comuns. E o que acontece daí por diante? Vou lhes dizer: os medicamentos são despejados no solo, impregnando-o. Em seguida, ganham os lençóis freáticos, comprometendo-lhes a qualidade. Essas águas, assim contaminadas, entram em contato com peixes, animais e plantas que, por sua vez, são consumidos pelo homem. Daí por diante não precisa dizer mais nada. O estrago está feito. As consequências também.

Há, ainda, um agravante no descarte dos medicamentos. É que muitos deles possuem prazo de validade ainda por vencer. Sendo assim, eles poderiam ser reaproveitados por outras pessoas que porventura padecessem do mesmo mal. Veja quanto desperdício e tamanha falta de solidariedade! Bem que o poder público poderia intervir e mudar essa realidade.

Por outro lado, não bastam manuais, cartilhas, leis e regulamentos bem elaborados. O Brasil é próspero quanto ao que se deve fazer, mas deixa (muito) a deseja quando o assunto é colocar a mão na massa. Quero dizer que as políticas voltadas ao meio ambiente têm de sair do papel. Têm de deixar os gabinetes e vir para as ruas, para junto das pessoas, pois são elas que, bem orientadas, irão fazer com que as coisas comecem a acontecer. É preciso uma conscientização em massa: nas escolas, nas repartições públicas e particulares, nas embarcações, nos bairros, nos coletivos, nos pontos de táxi, enfim, em todo o lugar onde convivam pessoas. E essa responsabilidade não pode estar restrita aos órgãos ambientais. Ela deve ser dividida com toda a cúpula governamental. Todas as pastas de governo têm sua parcela de responsabilidade nesse processo. Desta feita, o agente público responsável pela educação tem de colaborar para que o discurso ambiental alcance as escolas. O mesmo pode ser dito de quem lida com o transporte, com a saúde, com a infra-estrutura urbana, com a assistência social e assim por diante. A responsabilidade tem de ser conjunta, compartilhada, não deve ser fruto de ações isoladas.

É preciso ser dito, por fim, que a preocupação com a gestão ambiental em momento algum deve reduzir a importância dada às demais questões governamentais. O desejável é que haja, na medida do possível, um tratamento isonômico, igualitário. Em outras palavras, a gestão ambiental é tão importante quanto as demais e, em alguns casos, mais importante ainda. Uma política de governo que se satisfaz em repassar recursos para o pagamento da água, da luz e do telefone do órgão ambiental, sinceramente, ainda está muito aquém do modelo desejado. Se não mudarmos nossa postura hoje, poderemos não ter a oportunidade de alterá-la no futuro.

Com a palavra, os nossos governantes.

ALIPIO REIS FIRMO FILHO

Conselheiro Substituto/TCE-AM

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