Talvez nunca antes na História do governo americano (parafraseando um certo governante brasileiro), um presidente tenha causado tanto alvoroço, em tão pouco tempo, quanto Donald Trump.
Confabulando com um amigo, pouco depois da eleição de Trump, manifestei a ele a minha preocupação com a personalidade impulsiva de Trump e as possíveis consequências dessa personalidade inflamada na comunidade internacional. Na ocasião, ele tentou me tranquilizar dizendo que duvidaria muito que Trump mantivesse o mesmo discurso após assumir a presidência. Segundo ele, discurso de eleição é um. Discurso de governo era outro, completamente diferente. Todos que chegam à Casa Branca, dizia ele, “se enquadrariam” automaticamente. As arestas seriam aparadas e as coisas se normalizariam.
Não foi bem isso o que aconteceu e não é bem isso que temos visto.
Temos testemunhado um Chefe de Nação meio que descontrolado, que não concatena muito bem as ideias, que fala o que lhe vem à cabeça, sem filtros. Alguém que em tão pouco tempo (mesmo no longo prazo isso é inadmissível) quebrou as mais elementares regras das relações internacionais, da diplomacia, do bom governo e das boas práticas entre as nações.
Trump parece esquecer que diante de si não está mais o seu poderoso grupo empresarial onde ele pode falar tudo, dizer o que pensa, sem rodeios, diretamente. À frente dele estão não apenas o eleitorado que lhe emprestou a credibilidade e o colocou na Casa Branca. Estão também todos aqueles que não votaram nele. Estão as instituições públicas americanas que, como quaisquer outras, carecem de um governante sereno.
A economia americana que de uns anos pra cá tem dado sinais muito positivos de melhoras parece meio incrédula com o que está testemunhando. Sim. Porque uma crise diplomática e política agora talvez colocaria por terra todo um esforço para estabilizá-la. Os pequenos avanços conquistados no governo Obama podem ser perdidos de uma hora para a outra. O problema é que todos nós (o mundo) sofrerão as consequências de uma possível crise americana. Não nos esqueçamos da crise instalada em 2007/2008.
Eis alguns fatos inusitados (pra não dizer outra coisa) ocorridos no governo Trump com apenas 15 dias de chegada à Casa Branca:
– querela com o presidente do México, Enrique PeñaNeto, pelos custos da construção do muro separando as fronteiras entre os dois países;
– desentendimento com o presidente da França, François Hollande, envolvendo questões sobre a OTAN;
– bateu o telefone na cara do Primeiro Ministro Australiano, Malcolm Turnbull, por divergência de opinião;
– promessa de acabar com o "Estado Islâmico";
– queda de braço com o Judiciário americano pelo fato de ter assinado decretos que restringiram a entrada de muçulmanos nos EUA.
Aliás, com relação à queda de braço com o judiciário americano, Trump amargou mais uma derrota há poucos dias. Perdeu no Tribunal de apelação de São Francisco onde questionava a sentença do juiz de primeiro grau que havia suspenso os efeitos do indigitado decreto. Esboçou recorrer à Suprema Corte Americana mas recuou. Uma sequência de tropeços nada aceitáveis para alguém que está à frente da maior potência do planeta. Trump parece tropeçar nas próprias pernas.
A última deDonalTrump foi litigar com a imprensa americana. Convenhamos, uma péssima escolha.
Resumo da ópera: Trump está criando confusão com aliados, com inimigos declarados, com as instituições públicas americanas e, mais recentemente, com a imprensa americana.
A dúvida: será que ele terá fôlego?
ALIPIO REIS FIRMO FILHO
Conselheiro Substituto – TCE/AM