Aos 58 anos de idade, com uma mente privilegiadíssima e bem arejada, além de invejável vigor físico juvenil, Romero Reis pode ser definido como um inveterado e incorrigível caçador de desafios. Ainda adolescente, ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras (Amam), vivenciou a Academia Militar dos Estados Unidos, conhecida também como Academia de West Point, experimentou no 8º grupo paraquedista manobras alucinantes em plena queda livre, além da esgrima, seu esporte predileto e as lutas marciais.
Antes de deixar a farda verde-oliva do Exército Brasileiro, Romero Reis graduou-se em 1ª lugar engenheiro militar no Instituto Militar de Engenharia (IME). Fora da caserna, a sede por novos desafios continuavam a lhe incomodar o espírito sedento por novas experiências. Foi quando deixou o aconchego da família, em São Paulo, onde nasceu, para acalentar novos sonhos no Amazonas, onde atuou como responsável técnico das obras do Exército em Manaus e na Calha do Rio Solimões, de Tefé a Tabatinga, na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.
Em Manaus dedicou-se ao mercado imobiliário na liderança da RD Engenharia, em atividade até os dias de hoje. Como dirigente da RD Engenharia contribuiu para a realização de milhares de sonhos, com a marca de mais de 10 mil unidades habitacionais projetadas, construídas. Saltar de paraquedas em queda livre ou enfrentar as agressões naturais da Amazônia, entretanto, não foi o seu maior desafio. Romero sonha em ser prefeito de Manaus – cidade, conforme definiu, impactada pelos equívocos de gestões sem projetos para superar as grandes questões, como mobilidade urbana, água, saneamento e esgoto, além da segurança, saúde e educação.
Acompanhe entrevista concedida ao Fato Amazônico:
A única experiência do governador Wilson Lima antes se aventurar a uma disputa majoritária eleitoral era o rádio e a televisão. Natural do Pará pouco sabia sobre o Amazonas. Isso ficou claro pelos embates na televisão com outros candidatos. E ganhou. Provavelmente, o seu nome deve ser confirmado pelo Partido Novo como candidato à sucessão. O senhor conhece Manaus, com seus problemas e contradições?
Estou em Manaus há quase 30 anos. Bem antes de adotá-la para viver com a minha família percorri o Amazonas em quase toda a sua extensão. E de alguma forma, como engenheiro militar do Exército Brasileiro, contribui com a minha força de trabalho para o crescimento desse gigantesco estado. Em Manaus criei a RD Engenharia, empresa que poderia estar a gerar mais de 10 mil empregos em outro estado, não é mesmo? Vejo Manaus com os olhos de um filho que lhe devota profundo amor e de engenheiro, que percebe suas profundas contradições. Creio ter respondido a sua pergunta.
Fale sobre uma dessas contradições?
Manaus cresceu nas últimas décadas através do gravíssimo e descontrolado processo de invasões que inverteu o lógico das coisas. O município deveria planejar para onde a cidade deveria crescer e, lá, prover infraestrutura – asfalto, rede de energia, água e esgoto, transporte coletivo, postos de saúde, escolas, etc. Isso não ocorreu. As pessoas que migram para Manaus ocuparam áreas sem nada disso. Resultado: pra levar o ordenamento, a limpeza pública é muito difícil.
Outro exemplo.
À margem direito do Rio Negro, subindo, na frente da cidade, existem vários pontos com estaleiros mal posicionados, carreiras para dar manutenção em barcos, barrancos caídos, palafitas, esgotos lançados diretamente no rio. Como cartão de visita isso é muito feio e precisa ser ordenado, com habitações adequada, tratamento de esgotos, enfim… tratar a encosta e evitar queda de barranco com paisagismo atrativo para o turista. O que precisa é mudar o Código Florestal, com a revisão das áreas de preservação (APP). Manaus é uma cidade bonita. Agora imagine se pudesse usar toda a sua orla com intervenções, urbanização, comércio, serviços? Ficaria com a cara muito mais bonita.
Que outras áreas poderiam ser beneficiadas com a revisão do Código Florestal?
Muitas. O Puraquequara, por exemplo, poderia ser urbanizada como a Ponta Negra, que é um belo cartão postal para o turista. Por que não urbanizar o Puraquequara? Quando tem um evento na Ponta Negra, as pessoas cruzam a cidade para chegar ao local. Urbanizar uma praia no Puraquequara seria fantástico. Seria mais um cartão de visita para a cidade. Existe recurso para investir num projeto desse porte e que vale à pena. Seria excelente opção para os moradores da zona leste que tem mais de 800 mil habitantes.
Manaus então tem solução.
Claro. O que precisa é ser pensada. Pensada não somente em período eleitoral. E é isso que tem acontecido ao longo da história. O caminho que vai levar Manaus a ser cidade referência no Brasil é pensar 24 horas em cada área saúde – educação, mobilidade urbana, transporte coletivo, geração de emprego, empreendedorismo, esporte.
Como pensar para melhorar a saúde?
Primeiro desburocratizar, usar a tecnologia em proveito do cidadão. Acabar com filas. Não tem mais sentido brigar por uma senha para fazer exame. Saúde é vital. As pessoas mais carentes recorrem ao sistema público à busca de atenção básica, exames, consulta, remédio e orientação preventiva. Não funciona. A burocracia não permite. Resgatar o médico da família é uma grande ação na área da medicina preventiva. Pra isso é preciso melhorar a alto estima de todos os profissionais envolvidos, com condições dignas de trabalho. Assim teremos o melhor serviço.
Sem saneamento básico?
Sem saneamento básico, a saúde fica vulnerável, a mortalidade infantil dispara. É preciso ter água de qualidade e serviço de esgoto para toda a cidade. Somente 10% de Manaus está servida de esgoto. E como resolver isso? Conversar de forma clara e transparente com a empresa que recebe a concessão, estabelecer com ela um programa de investimento para que no período de sete anos possa levar mais de 50% de esgoto para a cidade de Manaus e, ao longo de algumas décadas, atingir a cidade com pelo menos 90% de esgoto para a cidade.
Transporte público com qualidade é um sonho?
Talvez, mas que pode ser realizado. Se for deficiente, ele (o sistema) impacta diretamente na vida das pessoas. A maioria da população que se utiliza do transporte coletivo, hoje, gasta pelo menos seis horas por dia em deslocamento. Isso é terrível. Bastaria uma hora no máximo para chegar ao trabalho. Assim sobraria tempo para ser usado no lazer e outras atividades necessárias à melhoraria da qualidade de vida do trabalhador. Quem não gostaria de ter um BRT, por exemplo, com linha exclusiva, com sistema tecnológico que permite gerenciamento do tempo. Falamos de BRT, as pode ser monotrilho. Metrô, não. Manaus não tem volume de transporte de pessoas capaz de implantar um metrô que é um transporte de que exige investimento mais caro, maior. Uma pista elevada (BRT) para evitar desapropriações parece mais adequada.
Uma malha de 60 km por um custo de R$ 1,5 bilhão, do T4, pela Max Teixeira, Torquato Tapajós, centro, Manaus Moderna, Distrito Industrial, Grande Circular e T4 para fechar. R$ 1,5 bilhão pode parecer uma montanha para o cidadão comum. Mas para Manaus, que tem um PIB acima de R$ 70 bilhões por ano, seria muito bem empregado. Isso pode mudar Manaus e trazer felicidade ao cidadão porque ele vai ter qualidade de vida.
A educação, também, não vai lá muito bem das pernas. Como melhorar?
Primeiro não basta só saber ler e escrever. É preciso saber Matemática, dominar a Língua Portuguesa, saber falar Inglês, ter uma base científica adequada. Pra isso é que existe ensino fundamental e médio. Sem descartar o ensino superior, a base de tudo é o ensino profissionalizante, como tecnologia e informação. Em Manaus existe mais de 500 empregos de alto padrão salarial que não consegue preencher na área de programação e informática. Precisamos formar técnicos em informática, que conheçam a linguagem da programação para que possam suprir as necessidades dos profissionais habilitados nas empresas de economia digital, de base tecnológica, startup, Institutos de Tecnologia.
Como pensar melhor a segurança?
A segurança é papel constitucional da União e dos estados. Mas a prefeitura pode ajudar, iluminando a cidade, montando uma central de câmeras de reconhecimento facial, treinando e armando a guarda municipal, que seriam empregados na proteção das escolas, por exemplo, e pontos turísticos.